Precisamos parar de rir da Inês Brasil

Conhecida pela sua autenticidade, Inês Brasil chocou os fãs que compareceram ao seu show  "Baile do Close Certo", em Manaus. A cantora, que é praticamente uma fábrica de memes, causou polêmica ao usar um microfone para se masturbar em forma de protesto por problemas no som.  No Twitter, os internautas pediram atenção ao caso e à hiperssexualização da artista. Para pra pensar. Quando você vê um vídeo ou um meme, você está rindo com ela ou está rindo dela?

Em primeiro lugar, é importante ressaltar que o propósito deste texto não é criticar a Inês Brasil e sim a forma como ela é explorada. Seria hipocrisia da minha parte criticar o estilo de vida dela, já que o puritanismo também passa longe do meu. O que não dá pra dizer é que ela está ali por "livre e espontânea vontade" e que essa atitude não se trata de um caso de abuso porque "faz parte do show business".

O que me incomoda é a gente precisar de uma situação tão extrema para perceber que o buraco é mais embaixo. Na semana passada (15/03), ela deu uma entrevista para o Danili Gentili que também deu o que falar. Ali, revelou que já tinha sido prostituta na Alemanha, que havia sido estuprada três vezes, não parava de rebolar e, por fim, ficou pelada, na frente das câmeras, do apresentador, público, tudo. Aparentemente, ela tem sim poder sobre o próprio corpo, mas essa exposição não faz de Inês Brasil uma mulher livre.

Ela é explorada pelos meios de comunicação, que de forma bem sensacionalista, consomem o corpo da mulher ignorando a história que ela tem por trás. Na internet, ninguém a trata com respeito, apenas querem dar risada e partir pro próximo meme. O papo de "liberdade sexual" só serve para explorá-la ainda mais e ridicularizá-la em rede nacional. Ou vocês acham que os fãs estão realmente preocupados com o passado de Inês Brasil?

Ainda por cima, há controvérsias sobre essa liberdade durante os shows. Em 2015, após se apresentar no Rio de Janeiro, Inês continuou no palco por um tempo e depois foi retirada à força por seu assessor, Thiago Araújo, que a puxou pelos cabelos. Fãs presentes disseram que ela inclusive foi arrastada escada abaixo. Segundo o jornal O Globo, Inês Brasil prestou queixa na Policia Civil contra o assessor após agressão e registrou o ocorrido como lesão corporal. “Ela é uma ex-prostituta que já tem várias portas abertas, mas às vezes não consegue ir além porque precisa mudar o perfil. Estávamos todos bebendo e, para contê-la, peguei a Inês no colo à força e entrei no camarim”, disse Thiago ao jornal.

"Eles não enxergam ela como mulher, e sim como um objeto de entretenimento. Se amanhã ela tiver mal, ninguém vai mexer um dedo pra ajudar. Eles riem dela, não com ela. Acho importante ressaltar que a culpa não é da Inês Brasil e sim de quem alimenta esse comportamento. No final do dia ela, assim como as outras mulheres na industria pornográfica, tão ali pra pagar as contas, mesmo que seja de um jeito ferrado pró patriarcado", argumenta Manoela Caldas, integrante do Coletivo de Mulheres da PUC-Rio.

Por isso eu digo, e repito, este é um caso claro de abuso e hiperssexualização da mulher. Nas buscas do Google, a primeira palavra que acompanha o nome dela já é "microfone" e este também se tornou um dos assuntos mais comentados do Twitter. A gente vive numa sociedade que espetaculariza a miséria alheia e precisamos parar com isso, já. Não dá mais para dizer que o que a Inês Brasil faz é "apenas a vontade dela", porque se assemelha à lógica de dizer que quando uma mulher é estuprada de roupa curta, ela "estava pedindo por isso".